jueves, 24 de abril de 2014

Um cravo mais … em abril …

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   Uma vez mais, a imparavel viagem do nosso calendario por todo um ciclo de 12 meses, volta a apontar a data de 25 de Abril.

    Em Portugal, e depois e 1974, esta é uma data que, independentemente da visão politica, ou simples opinião pessoal de cada um, não permite a ninguém ficar indiferente.

    A prudente distancia que nos dão 40 anos, permite aos que, como eu, viveram a “Revolução dos Cravos”, uma análise em consciencia e sem a emoção apaixonada que nos dá a demasiada proximidade com os factos.

 

 

 

   Hoje, posso evaluar tudo o que passou nesse dia, desde a altura dos meus 53 anos … as boas e as más decisões … os momentos de luz e de escuridão … os mais … e os menos …

    Em Portugal, esta data, estando ou não de cuerdo, é um simbolo de uma profunda mudança social e politica.

    Mas, comecemos por conhecer a definição da palabra “revolução” … o dicionario da Real Academia Española diz : … revolução, do latin “revolutio”, “uma volta”, cambio social, fundamentalmente na estructura de poder o oranização, que toma lugar por um período relativamente curto.

 

 

 

 

   Contrariamente ao que alguns pensaram despois da “Revolução dos Cravos”, uma revolução não é um sistema de governo, nem um tipo de politica permanente.

    Uma revolução tem um curto espaço de validade.

   Em Portugal tentou-se arrastrar o período revolucionário por mais tempo que o necessário, as forças mais a esquerda, que lógicamente estiveram por detrás do golpe, tinham intenções de que a mudança fosse mais radical.

    Cerca de ano e meio depois, após o 25 de novembro de 1975, as coisas começaram a normalizar.

 


 



 


   A “Revolução dos Cravos” teve uma importancia fundamental no destino de Portugal e ficará para os anais da historia, a par de datas como a declaração de independencia por D.Afonso Henriques em 1143, a restauração de essa mesma independencia depois de 60 anos de dominação espanhola, em 1 de Dezembro de 1640, ou a da implantação da Republica Portuguesa em 1910.

 



 

 

    Erros? Sim! Houve erros. Dois tipos de erros: os normais em cada mudança social e os especialmente únicos.

   Os normais: a revolução de 1974 foi uma mudança, no momento, drástica e isso arrasta complicações colaterais … de repente … tudo o que era proibido passa a ser permitido … ninguém esta preparado para que uma mudnça assim seja pacifica.

   No processo ganharam-se consciencias e liberdades, mas também se perderam alguns valores, concretamente familiares … foram necessarios cerca de dez anos para voltar a recupera-los em parte … foi o preço a pagar.

   Depois … os erros especialmente unicos … primeiro a tentativa de manter um governo militar … não esqueço o COPCON … as expropriações, algumas justas, mas muitas outras selvagens … e o método ineficaz, apressado e caótico de por fim a uma guerra colonial que foi um dos pilares que levou a organização do golpe.

 

 

 

 

   Hoje, 40 anos depois vejo a gente que se confunde um pouco.

   Em plena crise economica, hoje tenta-se procurar culpados e é muito fácil acusar uma mudança de há quase meio século, sem olhar á volta e tomar consciencia de um problema que existe a um nivel practicamente mundial.

   Os problemas de Portugal sofre (e não é o unico país) tem dois motivos – a crise internacional e o crescente déficite de inteligencia das classes politicas.

 

 

 

 

   Não me vou a alargar muito mais com as minhas reflexões, mas não quero terminar sem deixar alguns pontos de ponderação que me parecem importantes …

    • não gosto de ouvir ou ler que a “Revolução dos Cravos” foi um acto sem derramamento de sangue …

      Nesse dia de 25 de Abril de 1974 morreram em Lisboa, 7 pessoas, na sua maioria alvos de metralhadoras G3 disparadas desde dentro da sede da policia politica do regime deposto horas antes, a PIDE-DGS.

       

       

       

            Penso que é uma falta de respeito para com as familias dessas victimas não valorizar o seu sacrificio.

        • Por outro lado, necessito que alguém me explique de numa vez por todas, porque jamais se dignificou a figura do Capitão Salgueiro Maia, fundamental em todo esse dia, a ponto que ainda hoje a sua viuva, tanto quanto sei, não recebe qualquer pensão a que tem direito, enquanto nestes 40 anos se medalharam a ex membros da referida antiga policia politica.

           

           

            

              Y como remate … a todos quantos, nas minhas viagens a Portugal, oiço dizer que preferem mais estar no regimen anterior á revolução (chego a escutar o nome do dictador Salazar) vos digo:

              … a “Revolução dos Cravos” permitiu a que foi a mais valiosa conquista … a liberdade de pensamento … o fim á censura e á perseguição politica … ou seja … permitiu que essas mesmas pessoas possam manifestar publicamente a sua opinião sem medo a “desaparecer” no dia seguinte … ao menos isso não tem contestação.

           

           

           

 

    A ninguém se debe obrigar a comemorar a data de 25 de Abril em Portugal … mas … penso … a ninguém se debe impedir de fazé-lo … ou não pudemos aprender nada com os nossos erros …


                             jorge peres

                            ex – militar

                           ex- revolucionario

                           ex – esquerdista


           mas sempre agradecido aos capitães de Abril. 

 

 

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sábado, 29 de marzo de 2014

... A AMNÉSIA DA HISTORIA – I ...


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ERNESTO PINTO LOBO


    A historia é um animal propenso a uma doença cíclica … grave … felizmente com cura … a amnésia.

   Por isso sinto a necessidade de investigar, conhecer e dar a conhecer o passado – porque me importa … porque debe importar a todos … porque não podemos dicidir em consciencia no futuro se não sabemos do nosso passado.

    Não podemos viver na ignorância … nem somos avestruzes … nem meter a cabeça debaixo da areia soluciona ou ajuda a solucionar nada … de repente me veio á cabeça uma (das muitas) expressões do meu pai … “a ignorância é sempre atrevida”.

Eu tento colocar o meu grão de areia, como se fosse um antídoto para a “amnésia historica”.

 

  

   A “AMNÉSIA HISTÓRICA” de hoje vai, muito especialmente, para Portugal, Castelo Branco, cidade que me viu nascer … mas gostaria de compartir-la com todos os meus leitores espanhois.

    Hoje vou falar de um homem que nasceu em 23 de Fevereiro de 1937, em Tramagal, Abrantes, em pleno centro de Portugal, de seu nome ERNESTO PINTO LOBO.

    Depois de terminar os estudios secundarios em Abrantes foi para Coimbra para estudiar na Universidade de Letras.

    Aí se licenciou em Historia.

 

 

 

   Pelo seu matrimónio, ERNESTO PINTO LOBO passa a residir em Castelo Branco, onde começa por ser professor de pedagogia e Director Pedagógico da Aliance Française de essa cidade.

    Pouco a pouco, com os seus estudos e pesquisas tornou-se um especialista em temas sociais e turisticos, e aparecem as suas primeiras publicações no campo historico e etnográfico, colaborando em jornais e revistas da especialidade.

    Fundou o “Centro de Estudos Etnográficos da Beira Baixa” e a revista “Adufe”.

    Fez um rigoroso levantamento do panorama folclórico musical português da “Beira Baixa”.

 


 

 

   Nos anos 60 entra para a “Orquesta Tipica Albicastrense” onde assume funções de Presidente de Direcção em 1970.

    Mais a mais, cantava muito bem.

 

 

   Um dia, conversando eu com outro ilustre personagem, igualmente injusticiado pela história (felizmente, e á data de esta publicação, ainda vivo), Arlindo de Carvalho, este me dizia que não conhecia a ninguém que cantasse tão bem a canção “Maria Faia” como Ernesto.

    Sobre o grande compositor e interprete Arlindo de Carvalho, falarei outro dia.

 

 

 

 

   Ernesto Pinto Lobo era tambiém um muito bom interprete de outro tipo de musica portuguesa, que se lhe ficou dos tempos de estudante … o fado de Coimbra.

 

 

 

 

   Pessoalmente conheci a Ernesto nos anos 70.

   Ao despontar da “Radio Juventude, Emissor Regional de Castelo Branco”, ele foi um dos primeiros em apostar forte no nosso projecto e a dar a sua sempre generosa colaboração.

   Com ele mantive longas conversas, todas interessantes e enrriquecedoras, e nos meus programas sempre houve um espaço para uma rúbrica sua sobre os temas de que tanto sabia.

    Com ele aprendi e descobri, muito sobre a historia de uma cidade que era mais minha que sua, mas, pela qual, fez muito mais do que eu.

   A nossa fecunda colaboração durou mais de uma década até que a vida, geográficamente, nos separou.

 

 

   Mas Ernesto não parou e até á sua morte manteve-se muito activo.

    Foi chefe da Divisão de Educação e Cultura da Câmara Municipal de Castelo Branco e director da Biblioteca Municipal.

   As suas publicações, tanto escritas como em registos audio e em imagens (no seu tempo em super 8) algumas por sorte recuperadas e digitalizadas, são hoje um grande pilar sobre a historia de toda essa região.

 

 

 

 

   Em 20 de Março de 2000, dia da cidade, teve a sua ultima aparição pública, falando sobre outro grande nome, Eurico Sale Viana.

    Pouco desfrutou do novo século nem do novo milénio … morreu a 21 de Abril de 2000, victima de uma doença complicada aos 63 anos de idade.

     A titulo póstumo a Camara Municipal de castelo Branco, atribui-lhe a “Medalha de Ouro de Mérito Cultural” e deu o seu nome a uma rua.

   No entanto, parece-me muito pouco … o aniversário da sua morte passou quase invisivel para todos quantos bebemos de essa grande fonte de saber e de esse enorme poder de comunicação que foi Ernesto Pinto Lobo.

    Me arriscaria a propor á Camara Municipal de Castelo Branco que se desse á Biblioteca Municipal de esta cidade o nome de esta figura pública.

   Deixo uma pregunta a quantos, como eu, passamos já dos 50 anos

     Preguntai aos vossos filhos e filhas quem foi o Dr. ERNESTO PINTO LOBO … na resposta conseguida encontrareis o trabalho de divulgação que todos temos pela frente.

 

      Os deixo um fragmento de um trabalho de Ernesto, gravado e apresentado por el mesmo.

 

 

 

 

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martes, 11 de marzo de 2014

... O OUTRO ... 11 DE MARÇO ...

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    Num dia de pesar e tristeza em todo o mundo pela memória do atentado de Atocha, Madrid em 2004, não gostaria de deixar passar o momento sem falar de outro 11 de Março.

 

 

   Refiro-me ao 11 de Março de 1975, em Portugal.

   Para os que não sabem, para os que não se lembram, ou para os que tão simplesmente não querem lembrar-se … aquí estou para remover as aguas … e o lodo …

  Em 25 de Abril de 1974, um grupo de militares, concretamente capitães, levaram o bom termo um golpe de estado ( a Revolução dos Cravos ) contra o governo ditactorial que 50 anos antes havia instalado Antonio de Oliveira Salazar, e que, por morte deste, foi continuado com formulas levemente atenuadas ( muito levemente )por Marcelo Caetano. 

 

  

   O golpe teve o seu sucesso, entre os muchos porquês, pelo grande apoio popular, pelo cansaço das estruturas sociais e politicas do momento e, (muito importante) pelo desagrado geral que a guerra colonial, que Portugal mantinha em Africa inculcava na esmagadora maioria dos portugueses.

   No proprio dia da revolução aparece a público o nome de António de Spínola, que já era conhecido num circulo reduzido de uma sociedade manietada por uma feroz censura, por um livro que editara, meses antes, em contra de essa guerra colonial.

 

 

   Spínola era nesse tempo general do regime e esse acto de “rebeldia” o levou a ser destituido dos seus cargos militares, por Caetano.

   Mas, contrariamente aos comentarios feitos á pouco tempo por Mario Soares, Antonio de Spínola caiu de paraquedas na Revolução dos Cravos.

   Spínola nada teve que ver com a estrategia do golpe e foi contactado no mesmissimo dia 25 quando lhe pediram que se apresentasse no Convento do Carmo, sede do governo de Marcelo Caetano.

  O que passou é que, o assalto (pacífico) ao Carmo foi comandado pelo grande Salgueiro Maia.

 

 

  

   Quando chegou á fala com o então presidente do Conselho de Ministro Português, pediu-lhe que abdicasse voluntariamente do poder, este avaliou a situação e depressa se apercebeu de que não tinha outra saida.

    No entanto, e dando-se conta de que Salgueiro Maia era capitão, exigiu entregar o comando a um militar con a patente minima de general.

 

 

 


   Foi então que chamaram a Spínola, que num primeiro momento recusou, pois se lembrava de outros golpes anteriores … fracassados … e ainda não confiava no sucesso de este.

   Depois de alguma insistencia por parte de nomes como Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço e outros capitães, acedeu e aí se dirigiu para tornar-se o primeiro presidente da Republica Portuguesa depois da ditadura.

   Mas no fundo, Spínola era um militar do regime anterior, divergindo e alguns pontos estrategicos (já vos falei do seu livro contra a guerra).

 

 

 

   Os cambios politicos decorridos depois do 25 de Abril foram drásticos, profundos.

  Portugal era um enorme avião que curvara bruscamente á esquerda (demasiado bruscamente para Spínola) e flutuava em poços de ar e fortes ventos, o que tornava a viagem muito instavel.

   A 30 de Setembro demite-se sendo substituido por Costa Gomes.

 

 

 



   Politicamente dedicou-se a tentar mudar essa pronunciada mudança á esquerda, primeiro tentando um movimento social pacifico a que chamou de Maioria Silenciosa, mas cedo percebeu que não seria suficiente.

 

 

  

   E assim chegamos a esta data … 11 de Março de 1975.

   Utilizando uma minoria de militares e sob o comando (não oficial) de Spínola, tentou-se um contra golpe, com base nas ideias mas de direitas.

   Alguns aviões sobrevoaram e metralharam o RAL1 (Regimento de Artilharia 1) enquanto um grupo de paraquedista o tentava ocupar.

   Poucas horas depois e após um dialogo emocionante trasmitido em directo pela televisão, os militares revoltosos compreenderam que estavam em minoria e a coisa acabou com a saida de Antonio de Spínola de helicoptero para Espanha.

 

 

 

   Me surpreende a falta de elaboração e de visão na estrategia de Spínola.

   Não só fracassou nas suas intenções em mudar o rumo politico de Portugal como conseguiu exactamente o contrario.

   A base da revolução afirmou-se nais radicalmente, o MFA (movimento das Forças Armadas) declarou oficialmente a intenção politica de caminhar em direcção ao socialismo, e o país, mais do que antes, aproximava-se de uma esquerda profunda e quase radical.

 

 

  

   Valeu um homem que, oito meses mais tarde, acabaria com o crescente politico do partido comunista ( e toda a esquerda), Ramalho Eanes em 25 de Novembro de 1975.




 

   O golpe falhado de 11 de Março quase criou as estruturas para uma possivel guerra civil portuguesa (esteve muito perto).

   Hoje, 39 anos depois, é curioso analizar alguns detalhes.

    Tal como o 11 de Março de 2004 em Espanha, também se tentou em Portugal, desviar as responsabilidades do golpe falhado como uma cena de pelicula orquestrada.

   Gostaria de deixar alguns dados mais, a que tive acesso desde o meu previlegiado ponto de observação desde Espanha, onde vivo.

   O 11 de Março de 1975, em Portugal, foi seguido com muita atenção pelo governo espanhol do momento.

   Franco estava já doente e o seu chefe de governo era Arias Navarro.

 

 

 

    Depois de ter falhado o golpe de Spínola, verificando a crescente inclinação da politica portuguesa á esquerda e a possibilidade (muito real) de uma guerra civil, Arias foi a Jerusalem encontrar-se em reunião com o então vice secretario de estado de Estados Unidos, pedir ao governo americano apoio para, em caso de guerra em Portugal, poder intervenir militarmente ajudando as facções de direita.

     Estados Unidos estava igualmente preocupado com a possivel chegada do comunismo ao extremo da Europa, mas estava mais interessado em defender e negociar as suas posições nas Bases dos Açores (territorio português).

   As comunicações chegaram mesmo a Henry Kissinger.

 

 

  

   Diante da recusa, tanto no apoio militar, como da entrada de Espanha na OTAN (NATO), Arias Navarro chegou a mesmo a declarar que Espanha entraria sozinha nessa guerra apoiando Spínola.

  Num determinado momento e vendo que as negociações sobre as suas bases não iam por bom caminho em Portugal, Estados Unidos estudou a possibilidade apresentada pelo governo espanhol.

 

 



    Mas em Setembro de 1975, Franco assina a execução de tres membros da ETA y dois das FRAP, o que movimentou o desagrado da opinião internacional e fez defenir em contra o governo americano.

    Depois, o 25 de Novembro em Portugal, definiria a situação socio-politica e aclararia a impossibilidade de uma guerra civil … Portugal travava a sua viragem profunda á esquerda e nivelava politicamente por terrenos mais centristas e menos extremistas.

   Hoje, 10 de Março de 2014, é um dia de ecos da historia, uma historia de varios acontecimentos, varios conteúdos e que não queremos nem devemos esquecer … porque a historia, jamais se debe esquecer.

    Por isso vos falo hoje … de outro 11 de Março ...

 

 

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