Num dia de pesar e tristeza em todo o mundo pela memória do atentado de Atocha, Madrid em 2004, não gostaria de deixar passar o momento sem falar de outro 11 de Março.
Refiro-me ao 11 de Março de 1975, em Portugal.
Para os que não sabem, para os que não se lembram, ou para os que tão simplesmente não querem lembrar-se … aquí estou para remover as aguas … e o lodo …
Em 25 de Abril de 1974, um grupo de militares, concretamente capitães, levaram o bom termo um golpe de estado ( a Revolução dos Cravos ) contra o governo ditactorial que 50 anos antes havia instalado Antonio de Oliveira Salazar, e que, por morte deste, foi continuado com formulas levemente atenuadas ( muito levemente )por Marcelo Caetano.
O golpe teve o seu sucesso, entre os muchos porquês, pelo grande apoio popular, pelo cansaço das estruturas sociais e politicas do momento e, (muito importante) pelo desagrado geral que a guerra colonial, que Portugal mantinha em Africa inculcava na esmagadora maioria dos portugueses.
No proprio dia da revolução aparece a público o nome de António de Spínola, que já era conhecido num circulo reduzido de uma sociedade manietada por uma feroz censura, por um livro que editara, meses antes, em contra de essa guerra colonial.
Spínola era nesse tempo general do regime e esse acto de “rebeldia” o levou a ser destituido dos seus cargos militares, por Caetano.
Mas, contrariamente aos comentarios feitos á pouco tempo por Mario Soares, Antonio de Spínola caiu de paraquedas na Revolução dos Cravos.
Spínola nada teve que ver com a estrategia do golpe e foi contactado no mesmissimo dia 25 quando lhe pediram que se apresentasse no Convento do Carmo, sede do governo de Marcelo Caetano.
O que passou é que, o assalto (pacífico) ao Carmo foi comandado pelo grande Salgueiro Maia.
Quando chegou á fala com o então presidente do Conselho de Ministro Português, pediu-lhe que abdicasse voluntariamente do poder, este avaliou a situação e depressa se apercebeu de que não tinha outra saida.
No entanto, e dando-se conta de que Salgueiro Maia era capitão, exigiu entregar o comando a um militar con a patente minima de general.
Foi então que chamaram a Spínola, que num primeiro momento recusou, pois se lembrava de outros golpes anteriores … fracassados … e ainda não confiava no sucesso de este.
Depois de alguma insistencia por parte de nomes como Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço e outros capitães, acedeu e aí se dirigiu para tornar-se o primeiro presidente da Republica Portuguesa depois da ditadura.
Mas no fundo, Spínola era um militar do regime anterior, divergindo e alguns pontos estrategicos (já vos falei do seu livro contra a guerra).
Os cambios politicos decorridos depois do 25 de Abril foram drásticos, profundos.
Portugal era um enorme avião que curvara bruscamente á esquerda (demasiado bruscamente para Spínola) e flutuava em poços de ar e fortes ventos, o que tornava a viagem muito instavel.
A 30 de Setembro demite-se sendo substituido por Costa Gomes.
Politicamente dedicou-se a tentar mudar essa pronunciada mudança á esquerda, primeiro tentando um movimento social pacifico a que chamou de Maioria Silenciosa, mas cedo percebeu que não seria suficiente.
E assim chegamos a esta data … 11 de Março de 1975.
Utilizando uma minoria de militares e sob o comando (não oficial) de Spínola, tentou-se um contra golpe, com base nas ideias mas de direitas.
Alguns aviões sobrevoaram e metralharam o RAL1 (Regimento de Artilharia 1) enquanto um grupo de paraquedista o tentava ocupar.
Poucas horas depois e após um dialogo emocionante trasmitido em directo pela televisão, os militares revoltosos compreenderam que estavam em minoria e a coisa acabou com a saida de Antonio de Spínola de helicoptero para Espanha.
Me surpreende a falta de elaboração e de visão na estrategia de Spínola.
Não só fracassou nas suas intenções em mudar o rumo politico de Portugal como conseguiu exactamente o contrario.
A base da revolução afirmou-se nais radicalmente, o MFA (movimento das Forças Armadas) declarou oficialmente a intenção politica de caminhar em direcção ao socialismo, e o país, mais do que antes, aproximava-se de uma esquerda profunda e quase radical.
Valeu
um homem que, oito meses mais tarde, acabaria com o crescente
politico do partido comunista ( e toda a esquerda), Ramalho Eanes em
25 de Novembro de 1975.
O golpe falhado de 11 de Março quase criou as estruturas para uma possivel guerra civil portuguesa (esteve muito perto).
Hoje, 39 anos depois, é curioso analizar alguns detalhes.
Tal como o 11 de Março de 2004 em Espanha, também se tentou em Portugal, desviar as responsabilidades do golpe falhado como uma cena de pelicula orquestrada.
Gostaria de deixar alguns dados mais, a que tive acesso desde o meu previlegiado ponto de observação desde Espanha, onde vivo.
O 11 de Março de 1975, em Portugal, foi seguido com muita atenção pelo governo espanhol do momento.
Franco estava já doente e o seu chefe de governo era Arias Navarro.
Depois de ter falhado o golpe de Spínola, verificando a crescente inclinação da politica portuguesa á esquerda e a possibilidade (muito real) de uma guerra civil, Arias foi a Jerusalem encontrar-se em reunião com o então vice secretario de estado de Estados Unidos, pedir ao governo americano apoio para, em caso de guerra em Portugal, poder intervenir militarmente ajudando as facções de direita.
Estados Unidos estava igualmente preocupado com a possivel chegada do comunismo ao extremo da Europa, mas estava mais interessado em defender e negociar as suas posições nas Bases dos Açores (territorio português).
As comunicações chegaram mesmo a Henry Kissinger.
Diante da recusa, tanto no apoio militar, como da entrada de Espanha na OTAN (NATO), Arias Navarro chegou a mesmo a declarar que Espanha entraria sozinha nessa guerra apoiando Spínola.
Num determinado momento e vendo que as negociações sobre as suas bases não iam por bom caminho em Portugal, Estados Unidos estudou a possibilidade apresentada pelo governo espanhol.
Mas em Setembro de 1975, Franco assina a execução de tres membros da ETA y dois das FRAP, o que movimentou o desagrado da opinião internacional e fez defenir em contra o governo americano.
Depois, o 25 de Novembro em Portugal, definiria a situação socio-politica e aclararia a impossibilidade de uma guerra civil … Portugal travava a sua viragem profunda á esquerda e nivelava politicamente por terrenos mais centristas e menos extremistas.
Hoje, 10 de Março de 2014, é um dia de ecos da historia, uma historia de varios acontecimentos, varios conteúdos e que não queremos nem devemos esquecer … porque a historia, jamais se debe esquecer.
Por isso vos falo hoje … de outro 11 de Março ...
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Nom entendim mui bem como é que decorrerom os acontecimentos em Portugal desde esse 11 de Março de 1975 até à entrada em cena do general Ramalho Eanes e como este conseguiu frear ou travar a força crescente do Partido Comunista. Deu um Golpe de Estado ou como fez?
ResponderEliminarParabéns polo seu blogue.
Muito agradecido lor ele.
Después del 11 de Marzo de 1975, la izquierda portuguesa más radical, ganó fuerza. La sociedad se dividió entre estos y los centristas y alguna derecha. El propio ejercito estaba divido. El gobierno estaba constituido por el "Conselho da Revolução". Los moderados empezaban a ganar fuerza. La izquierda empezó a sentir que o hacia algo radical en ese momento o no tendría demasiado futuro. A 11 de Noviembre una manifestación de trabajadores cerca el parlamento y impide la salida de los diputados. A 20 de Noviembre el gobierno se auto suspende. A 21, el estratega de la revolución de los claves, Otelo Saraiva de Carvallo es destituido del comando militar. A 24 un movimiento de personas conectadas con la derecha corta las carreteras e acceso a Lisboa y divide el norte del sur de Portugal. Con ele ejercito dividido la región militar de Lisboa es declarada en "estado de sito". Los políticos moderados huyen para el norte. Se dan ordenes para bombardear puntos estratégicos ocupados por militares de izquierda y al revés. Es entonces que aparece en escena António Ramlho Eanes, en el tiempo, teniente-coronel. Se recusa a bombardear o atacar sea quien sea ... Después de una ataque del Grupo de Comandos da Amadora, teniendo a la cabeza Jaime Neves los jefes militares e izquierda sienten que no tienen el apoyo esperado. Ramalho Eanes es nominado jefe de Estado Maior del Ejercito, el Gobierno vuelve a sus funciones y se busca el diálogo ... por un lado el gobierno torna publico que cuenta con el partido comunista para hacer parte del gobierno ... por otro lado se devuelve la Radio Renascensa a la iglesia. Todos contentos, todos tranquilos y se respiró un poco, después de haber estado muy cerca de una guerra civil.
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